quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Viver às vezes incomoda...


Havia nela aquela expressão de gente feliz.
Era feliz de verdade?
A resposta para tal pergunta variava tanto quanto as roupas que era capaz de usar durante uma semana inteira, ou quem sabe o mês todo. A felicidade é apenas relativa, ela achava, relativa como o sorriso que via nas crianças que conhecia. No momento seguinte elas poderiam chorar, mesmo que por uma dor tola ou um susto passageiro, e então a felicidade se esvaía em cada lágrima que caísse.
Assim era a felicidade dela também, frágil como a de uma criança, passageira como de gente já crescida.
Mas isso não importava agora.
Não era a felicidade – ou a falta dela – que a incomodava.
Nem mesmo era o frio de final de outono, tão corajoso de aparecer ali, naquela cidade dominada pelo calor, tão ilusório e temporário como sorvete, que vai derretendo e se alastrando e, por fim, se transformando em nada.
Não, o frio, mesmo inesperado e insosso, não a incomodava. No fundo, ela até gostava daquela sensação, da pele quase arrepiada, da roupa quente encostada na pele.
O que a incomodou naquele momento era ainda mais amplo e forte.
Era a vida como um todo que vinha de encontro a ela, a vida infame e inútil, tediosa e, de algum modo, certa demais. Ao menos era isso o que a vida dela aparentava ser, certa demais para quem olhasse de fora. De dentro, ela enxergava toda aquela certeza se transformar num incômodo incontrolável e repentino.
Ela não era feliz, nem com toda aquela vida certa e adequada. Não era feliz, não naquele momento. E o que era a felicidade, no final das contas?
Era a vida que a incomodava, e disso não poderia fugir. O incômodo de viver – e ser apenas quem já era – permaneceria ali para sempre, como uma companhia não desejada que jamais vai embora.
Mas tudo bem, pensou, porque o bolo de chocolate quentinho que saía do forno a fez lembrar de que a vida – por que não? – também podia ser um tanto doce e um tanto boa às vezes.

Um comentário:

  1. acho que reconheço esse sentimento
    hehe
    todos sentimos ele com frequenciaa
    ou pelo menoss nós sentimoss neh?
    hahahuahua
    =)
    beijo :*

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